A Luísa Arruda tem 40 anos, é Açoreana, nasceu em São Miguel, mas adoptada e apaixonada por Lisboa
desde os 18, para onde veio estudar Física. Presentemente é investigadora em Física de Partículas mais propriamente na área
de Física do Espaço. É casada e tem uma menina
de 7 anos, a Leonor.
Descobriu a paixão pela leitura desde que
aprendeu a ler, passado dois meses de ter entrado na escola. Antes disso delirava
que lhe lessem histórias: a colecção da Anita, livros do Petsi, várias obras da
Condessa de Ségur e outros clássicos. Era habitual ir com o avô para o
Jardim Antero de Quental em Ponta Delgada lanchar e depois disso, ao invés de
se lançar em correrias e outras tropelias, ficar sentada com ele num pacato
banco enquanto lhe lia “Os desastres de Sofia”, “As Meninas Exemplares” e outros
títulos da famosa colecção Azul, herdada da sua mãe. Também passou longas
tardes de fim de semana com o pai a ler-lhe livros como “A maravilhosa
Viagem de Niels Holgersson”, mais de 400 páginas de uma jornada de fantasia por outras paragens,
numa cumplicidade boa.
Quando descobriu que o conseguia fazer por si,
passou a devorar tudo o que apanhava, delirando quando
descobriu autoras como Sophia de Mello Breyner Andresen, Matilde Rosa Araújo,
Alice Viera, Ilse Llosa e a Luísa Ducla Soares (que hoje a filha já
aprecia). Foi todo um novo universo literário que se abriu. O gosto pela leitura foi-se desenvolvendo e
evoluindo ao longo da adolescência, período da faculdade e idade adulta. É uma leitora em construcção sempre a descobrir novos autores
que a surpreendem positivamente e dos quais deseja ler a obra completa e outros
que simplesmente não percebe o alarido literário que se gera à sua volta.
Há um registo fotográfico muito
giro da Luisinha de 3 anos com a Anita na praia debaixo do braço, ampliado e
emoldurado lá por casa dos pais e avós, evidenciando que é "livromaníaca" desde essa idade, ganhando a fama e proveito de andar sempre com um livro
atrás.
Como anda de transportes públicos, consegue sempre somar um
número considerável de páginas nestas alturas. Troca a televisão por um livro, aos fins de semana
se acorda primeiro gosta de ler no
silêncio da casa; ao longo do dia também dedica algum tempo ao livro que tem em mãos, lendo uma média de 2 livros por mês.
É muito disciplinada, lê um livro de
cada vez, mas se estiver com algum de leitura mais árdua pela temática ou pelo
estilo de escrita pode intercalar com outro mais fluído.
A Luísa como física gosta de fazer estimativas e em 34 anos de leitora activa, fez as suas contas e talvez já tenha varrido
uns 1660 títulos.
Se fosse para um ilha deserta e só pudesse levar um livro, talvez elegesse
uma bíblia de culinária: o Pantagruel!
Actualmente todo o investimento que faz em livros é para a filha, pelo que praticamente não compra livros de adultos.
Tem a sorte de ter familiares e amigos com bom gosto literário e espírito de
partilha que lhe emprestam vários livros e é também uma “habituée” das Bibliotecas
Municipais de Lisboa já há quase duas décadas.
Perguntei à Luísa se não se ama
alguém que não lê os mesmos livros, e a resposta foi:
"Discordo. A leitura é em si um acto solitário e
não implica necessariamente partilha. Lá em casa temos gostos literários
diferentes com alguns pontos de contacto e funciona. Até acho interessante
gostarmos de estilos distintos pois assim podemos expor ao outro uma temática
diferente. É uma forma de ter acesso ao conteúdo do livro sem ter o investimento
de tempo de o ler. Na verdade, conversamos sempre acerca do que estamos a ler.
Acho mais crítico o consenso no gosto cinematográfico de um casal, por exemplo.
Aqui sim temos gostos muito semelhantes."
Neste momento encontra-se a ler “As Vinhas De La Templanza” de María Dueñas. Descobriu este livro nas livrarias este verão, depois ouviu a
opinião de familiares e amigos que o leram no imediato e recomendaram. Descobriu esta escritora recentemente e gostou tanto da sua escrita
quer ler mais obras dela.
"A escrita de Dueñas é possante e
revela um domínio da narrativa extraordinário. As personagens estão tão bem
caracterizadas e movem-se num cenário
muito fidedigno à época. Já o tinha notado em “O tempo entre costuras” em que
seguimos uma personagem feminina, Sira Quiroga, ao longo de toda a trama que se
desenrola numa Espanha pró-Hitler, no protetorado de Tanger e Tétouan e até passa por Lisboa.
Mas se Dueñas é magistral a contar a história no feminino também o é no
masculino. Neste que estou a ler seguimos um maduro mineiro, Mauro Larrea que
parte da jovem república Mexicana em busca de melhor sorte após ter perdido a
sua fortuna. A história é repleta de aventura, intriga e paixão, ingredientes
que os autores da língua de Cervantes conjugam tão bem mas Dueñas fá-lo
magistralmente sem se engasgar e perder-se em descrições supérfluas ou figuras
de estilo abusivas. Ainda só estou a chegar a meio mas já estou a ver a receita
repetir-se. Identifico alguns pontos de contacto com a escrita do seu contemporâneo,
Pérez-Reverte em que a escrita escorre fluída e forte. Anseio terminar as 535
páginas e descobrir o que o destino de Dueñas reserva à sua personagem e às que
se cruzam com ela. Pisco o olho ao seu novo livro, Las hijas del Capitán, publicado este ano, talvez ainda o ataque em
Castelhano, mas um de cada vez como eu gosto. "
Obrigada Luísa pela partilha, continuação de excelentes leituras, podem encontrar a Luísa e as suas leituras aqui e aqui.
Beijinhos * Cláudia
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