O texto que escrevi em Fevereiro para o grupo de escrita CPR - Reanimação da Escrita, cujo tema era Amor e Máscaras, e ao qual nomeei O Amor chegou Mascarado:
Nunca fui muito romântica, nunca sonhei com o príncipe encantado, nunca achei que precisava de alguém ao meu lado para ser completamente feliz! Sempre pensei que iria conhecer alguém, que iria gostar de estar com essa pessoa, de ir ao cinema, de viajar, de experimentar restaurantes, que intelectualmente me estimularia, que me daria pica, mas as borboletas na barriga, as horas passadas a sonhar com esse alguém, as insónias, a incapacidade em articular um discurso coerente, a infantilidade de corar de cada vez que ele para mim fala, isso tudo pensei que fosse conversa de folhetim, coisas de miúdas tolas e insípidas, no entanto enganei-me redondamente! É o tal do preconceito, não podemos achar que por nos conhecermos muito bem que estamos sempre controladas e que controlamos tudo na nossa vida. É que a vida é muito esperta e por vezes matreira, prega-nos partidas, traz-nos atalhos e por muito que nos zanguemos com ela naquele momento, um dia mais tarde, iremos perceber que ela não foi madrasta, que a vida nos deu o melhor. É preciso maturidade, é preciso conseguirmos ver e sentir o essencial, vermos com os olhos do coração, não com a razão, não com os olhos dos outros.
Nunca fui muito romântica, nunca sonhei com o príncipe encantado, nunca achei que precisava de alguém ao meu lado para ser completamente feliz! Sempre pensei que iria conhecer alguém, que iria gostar de estar com essa pessoa, de ir ao cinema, de viajar, de experimentar restaurantes, que intelectualmente me estimularia, que me daria pica, mas as borboletas na barriga, as horas passadas a sonhar com esse alguém, as insónias, a incapacidade em articular um discurso coerente, a infantilidade de corar de cada vez que ele para mim fala, isso tudo pensei que fosse conversa de folhetim, coisas de miúdas tolas e insípidas, no entanto enganei-me redondamente! É o tal do preconceito, não podemos achar que por nos conhecermos muito bem que estamos sempre controladas e que controlamos tudo na nossa vida. É que a vida é muito esperta e por vezes matreira, prega-nos partidas, traz-nos atalhos e por muito que nos zanguemos com ela naquele momento, um dia mais tarde, iremos perceber que ela não foi madrasta, que a vida nos deu o melhor. É preciso maturidade, é preciso conseguirmos ver e sentir o essencial, vermos com os olhos do coração, não com a razão, não com os olhos dos outros.
Vou contar-vos sem quaisquer floreados o que me aconteceu
naquele dia 3 de Setembro de 2011, no qual todas as minhas certezas se
esvaneceram.
Saí de casa para mais um dia normal de trabalho, cujo
ponto alto seria a reunião com aquele possível cliente. O ano não nos estava a
correr bem, daí todos no escritório estarem a depositar as suas esperanças
naquela conquista. Sentia o peso da responsabilidade nas costas, por isso
tinha-me preparado muito, muita investigação, muito trabalho de casa, muito
treino e claro, muita confiança nas minhas competências. Todos tinham os olhos
postos em mim. E naquele dia arranjei-me particularmente bem, cabelo esticado,
maquilhagem top e a roupa certa, que revelava o melhor de mim, mas não de uma
forma abusiva, daquela forma que os deixa a querer descobrir mais! Sim, tudo ia
correr bem!
Pelas 16h30m apanhei um táxi à porta do escritório, eu
sabia que todos estavam na janela a espreitar-me, a enviar a energia positiva,
eu protagonizava a esperança em pessoa, eu tinha de conseguir aquele
cliente.
Todos diziam não ser pessoa fácil, exigente, por vezes
irascível, todos os escritórios o queriam representar, mas por outro lado
ninguém estava para aturar aquele tipo. Bom, isso não me assustava, eu também
não sou fácil, não sou de trato fácil, sou exigente, sou mal disposta e rezingona.
Ele não me mete medo, vou com tudo o que tenho e ele não vai ter como não
aceitar a nossa, a minha proposta.
Quando cheguei ao 13º andar (13, o meu número da sorte,
ou não tivesse nascido a uma 6ªf 13) fiquei deveras impressionada, encontrei
uma decoração minimalista, quase nórdica, branco, cinza e algum preto habitavam
pelo open space. Anunciei-me à
recepcionista elegante e casualmente vestida de branco, claro! Ao fundo um
homem jovem, moreno, de calças de ganga e camisa branca chamou o meu nome.
Olhei para a Karen, assim se chama a recepcionista, à procura da confirmação
que quem me chamava era o famoso Dr. Bettencourt.
Ela anuiu positivamente e eu o mais confiante possível
dirigi-me ao Dr. Bettencourt.
- Mel, bem-vinda! - Disse em tom divertido enquanto me
saudava com um aperto de mão.
Imediatamente me senti ruborescer, não estava à espera de
alguém tão jovem, tão bonito, tão desconcertante, e que me tratava por Mel!!!
Afinal não me tinha preparado para a reunião!!!
- Obrigada Dr. Bettencourt, é com muito gosto que aqui
estou. - Disse o mais calmamente possível, enquanto me tentava recompor,
esperando que ele não tivesse reparado na vermelhidão no meu rosto. Porra, mas
porque é que eu fui corar?
- Trate-me por João - Disse enquanto me indicava o sofá
branco de pele.
Sentei-me, o mais elegantemente que consegui e ele
sentou-se ao meu lado e senti pela primeira vez o seu cheiro inebriante. Até
hoje não sei se é perfume ou se é intrínseco daquela pele morena.
Sem entrar em mais detalhes, a reunião foi um fiasco, um
fracasso, não disse nada, mas rigorosamente nada do que planeei, do que
ensaiei. Gaguejei, corei, perdi o raciocínio vezes sem conta, senti-me uma
liceal, tonta, infantil... E para terminar em beleza ainda tropecei no tapete e
valeu-me os rápidos reflexos do Dr. Bettencourt, bem, do João, que me segurou
nos seus braços.
Aqueles braços fortes, musculados, perfeitos! Borboletas
na barriga, vocabulário nulo, rubor nas faces!
Estava perdida, não iria nunca conseguir aquele cliente,
o pessoal do escritório iria ficar desapontado, alguns de nós iríamos
certamente ser dispensados, não haveria forma de nos manter a todos!
Apanhei outro táxi e dei a morada de casa, não tinha
coragem de os enfrentar, como iria responder a todas as perguntas. E não sei
porquê chorei... A sério! Eu Melanie da Silva chorou... Era o princípio do fim,
aquele homem tinha provocado em mim, no meu corpo, na minha mente algo que eu
não pensei existir ou ser possível.
Insónias, sim, naquela noite tive insónias, naquela noite
ele não me saiu da cabeça, o sorriso, os olhos verdes, a voz rouca, o cheiro, o
toque da sua pele. Estava perdida, prisioneira de um homem!! Eu!!! A pessoa
menos romântica do mundo, sonhou com pôr-do-sol, jantares à luz das
velas, em fazer amor em frente a uma lareira...
Apareci no dia seguinte no escritório de óculos escuros,
cara fechada e de muito mau humor. Cheguei e todos se levantaram e de pé me
aplaudiram. Eu que estava à beira da loucura, que os tinha deixado ficar mal a
todos, eu que tinha fracassado na minha missão, estava a ser aplaudida. Mas
porquê?
Pelas 8h da manhã um estafeta tinha entregue no
escritório uma proposta de representação do Dr. João Bettencourt e um ramo de
flores onde se destacavam girassóis, a minha flor favorita. A principal
exigência do Dr. João era a que a Dr. Melanie da Silva fosse a única
interlocutora directa com ele e em regime de total exclusividade.
Estava perdida, eu tinha-os salvo a todos, mas eu estava desgraçada,
aquele homem só podia ser o meu carrasco.
Escusado será dizer que o contrato e todas as condições
foram aceites, para o bem de todos...
Já passaram 3 anos e o que temia aconteceu, apaixonei-me
forte e feio e ele é maravilhoso, sim eu e o João ainda estamos juntos. Sim, eu
e o João fizemos as coisas mais românticas de sempre, aquelas dos
filmes...
Para mim o amor chegou sem aviso, sem pré-aviso
sequer, chegou mascarado.
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